Quando eu e minha esposa estávamos de férias no Rio de Janeiro, quando
estávamos passando de carro no bairro do Estácio, mais precisamente na Rua
Hadock Lobo em direção ao túnel Rebouças que liga o Rio Comprido a Lagoa, eu não
acreditei no que meu filho de apenas 5 anos falou comigo.
Logo ele, que nunca havia estado no Rio de Janeiro, disse para gente não passar
por baixo do viaduto porquê lá havia morrido muita gente e não queria que
passássemos de baixo do viaduto. Falou quase que implorando e a medida que nos
aproximávamos do viaduto ele se desesperava mais ainda, estava a ponto de ter
uma crise nervosa.
Soluçava e chorava nervosamente a ponto de querer sair do carro. Tive que parar
o veículo para acamá-lo. Fiquei realmente muito comovido e impressionado com sua
atitude e mais ainda, espantadíssimo, porque na verdade, ele estava certo, sem
nunca ter ouvido falar da história, que foi uma das maiores tragédias que o Rio
de Janeiro passou.
Para quem não sabe, a história é a seguinte:
Em dezembro de 1971, o elevado Paulo de Frontim, localizado no bairro do
Estácio, ligando o Rio Comprido a Lagoa Rodrigo de Freitas na Zona Sul, desabou
matando muitas e muitas pessoas e ferindo diversas outras. A tragédia só não foi
ainda maior, porque era um sábado de manhã e chovia, logo o movimento de carros
era menor do que o de durante a semana e ajudado pela chuva que afastou algumas
pessoas de resolver alguns problemas naquele dia.
Ocorre que quando o Elevado Paulo de Frontim, o qual só estava sendo utilizado a
parte de baixo do viaduto, porque a parte de cima ainda não havia sido
inaugurada, esmagou dezenas de carros, um caminhão e ônibus, sendo o estrondo
sentido por diversos bairros, mesmo estando longe do local, tudo tremeu. O
bairro e adjacências, ficaram cobertos por uma cortina de fumaça e só quando a
poeira começou a baixar é que os cariocas começaram a ver o tamanho da tragédia.
Os que não morreram na hora, ficaram presos às ferragens dos veículos e
imploravam por socorro. Todos os hospitais do Rio praticamente ficaram a
disposição dos feridos, bem como o corpo de bombeiros rumaram para o local. O
local ficou repleto de ambulâncias com enfermeiros, médicos de plantão para
começar a dar o tratamento a cada pessoa retirada dos escombros. Fora milhares
de voluntários que rumaram para o bairro ou do próprio bairro para fornecer
desde comida, sanduíches até gelo, gaze, assistência psicológica, o que fosse
preciso.
Nesta época o Rio, bem como todo o Brasil, não estava preparado para grandes
tragédias, portanto não havia maquinário adequado para levantar as placas e
blocos de concreto e cimento que cobriam os carros e ônibus, caminhão, etc ... A
solução foi pegar emprestado algumas máquinas da ponte Rio-Niterói que estava
ainda em construção para que pudesse puxar e erguer os blocos. Mesmo assim o
trabalho foi precário e lento. Com profissionais serrando a lataria lentamente
para resgatar os feridos que eram prioridade o qual levaram dias e mais tarde os
mortos.
O resultado disto, foi que os dias foram se arrastando com muito sofrimento e
dor para os cariocas e principalmente para os parentes de desaparecidos. Somente
lá pelo vigésimo primeiro dia é que retiraram o último corpo.
Isto é apenas uma breve história dentro da história que diz respeito ao meu
filho, que na época do ocorrido, nem sonhava em nascer. E do pavor dele quando
nos aproximávamos do elevado para passar por baixo dele.
Coincidentemente, meu filho não é o único, porquê diversas pessoas quando passam
por baixo do viaduto, sentem um grande mal estar, arrepios, dores de cabeça, etc
... Cada uma com uma sensação diferente. Mesmos já tendo passado mais de trinta
anos do ocorrido.
Joelson Nogueira - PR